Ok, não sou de fazer resenhas de filmes que não sejam de livros ou desenhos animados. Mas semana passada entrou emcartaz um filme nacional que anda dando o que falar.

Se trata de Aquarius, filme com Sonia Braga e Humberto Carrão , dirigido por Kleber Mendonça Filho, e que teriam altíssimas chances de nos trazer um Oscar, só que não foi indicado devido a repercussão politica do mesmo. E já falo mais sobre isso, porque primeiro você tem que entender - e depois ir correndo assistir - o filme que abalou alguns "grandões" a ponto de saírem contra o filme.

O filme é classificação 18 anos, e realmente entendo o motivo, já que o filme tem cenas fortes de sexo, que são bem rápidas, flashes na verdade, se não fosse isso, o filme poderia passar tranquilamente para  maiores de 14 anos.


Aquarius conta a história de Clara, uma jornalista especialista em música  de 65 anos, que sobreviveu a um câncer, isso em meados dos anos 80, é viúva há 17 anos , que pertence a classe média alta de Recife, e passou boa parte da sua vida no Edificio Aquarius. Este apartamento de frente para o mar, é uma herança de família, mas mais que isso  é onde todas as lembranças de sua família estão.

Ela sua vida normalmente, entre seus LP's, que são muitos, suas caminhadas á praia, seus mergulhos e amizades, como o salva vidas que fica ali na orla. E cercada de amigos, que ela faz aqui e ali.

Tudo estaria muito bem, se não fosse o pequeno detalhe de uma grande construtora ter comprado todo o prédio menos o dela. E é óbvio que o tubarão não vai deixar um peixinho pequeno como Clara, uma senhora viúva atrapalhar os seus planos. É nesse ponto que vemos como a nossa geração, a maior parte pelo menos, está corrompida a ponto de achar que tudo está atrelado a sucesso e a dinheiro.

Diego, é neto do dono da construtora e como ele mesmo diz "está com sangue nos olhos" depois de ter estudo "Business' no exterior. E ele vai fazer de um tudo para fazer da vida de Clara um inferno. Afinal só ela está empacando o projeto que é seu primeiro, ele até muda o nome do projeto, que era um daqueles nomes em inglês, para Aquarius.

Mas não é só Diego e a construtora que está deixando ela louca com esta história. Ainda tem que aguentar a pressão de ex vizinhos, de filhos e parentes. Tenso. E você acha que ela deixa se abater por isso?

Que nada, ela mostra que ainda tem muita garra e força para lutar pelo que ela pensa. Mesmo que aos olhos de alguns isso possa parecer egoísmo, eu entendi Clara e o motivo dela não arredar o pé dali.
Quando você gosta é apenas vintage, quando você não gosta, é velho. 
O filme é incrível, tem uma fotografia linda, uma trilha sonora - que já falo mais- que é fantástica e uma protagonista que parece em todas as cenas e uma atriz, Sônia Braga, que segura o filme todo. Ela tira aquela imagem que a gente tem - ou a maioria de nós- de mulheres com mais de 60, que sim ela pode ter uma vida ativa, socialmente, sexualmente e fazer o que quiser. 

Clara mostra no corpo as lutas contra o câncer, e isso deixa um impacto forte na primeira vez que vemos, e depois revolta quando a repelem por isso - um babaca na minha opinião - , e ainda tem as pequenas lutas que ela trava em meio ao longa. Mas as memórias que ela guarda, além das alegrias e da paz que ela carrega dá um tom gostoso ao mesmo. Isso sem contar as pequenas coisas, um vulto, uma música na vitrola de Clara, a cômoda que insiste em aparecer, tudo isso liga ao final surpreendente do filme.

O filme retrata muito o lado família, o lado das memórias, aquele lado que dinheiro nenhum compra. Ele mostra como a nossa sociedade esquece dos pequenos prazeres, enquanto busca dinheiro, status e fama. Mostra a luta contra uma grande construtora que não tem vergonha de jogar sujo para conseguir o que quer, indo do céu ao inferno e ás vezes parando em algum lugar entre esses dois.

No final você percebe que não se trata de um edifício velho, com apenas uma moradora batendo o pé. Não, o filme toca em um ponto que mostra o que estamos fazendo da nossa sociedade, o que os nossos jovens estão fazendo,que a hierarquia familiar ainda é muito forte, como será o nosso futuro, que memórias levaremos, será que os Grandes sempre ganharão , sendo a força ou não, que mesmo que sejamos tomados por loucos, devemos lutar pelo que acreditamos.

Mas , vamos falar do motivo desse filme, lindo, ser tão criticado nas altas rodas . E o motivo do auê é por causa disso.
Sim, no festival de Cannes, o elenco denunciou o golpe que o Brasil está sofrendo - não, vou falar de política, então qualquer que seja sua opinião sobre isso, não comente aqui, há blogs e grupos especializados para isso.

Agora que trilha sonora incrível, já começa com Hoje de Taiguara - que não sabia quem era-, e ainda tem Bethânia, Roberto Carlos, Queen e outros tantos que você sai do cinema encantado com a nossa musicalidade nas veias e ainda empactado pelo que o filme nos mostra , meio que nos fazendo engolir seco em algumas horas, nos fazendo ficar com os olhos marejados ou com aquele aperto no coração. Não sentiu isso? Volte lá e assista de novo.

A lista do Spotify para quem quiser escutar estas belezas, embora seria melhor naquele som de vinil, né Clara?

Amei e super indico.

Saí de lá pensando. "Sei que dinheiro no banco é muito bom, mas minhas memórias é o que levarei comigo, e uma consciência limpa, dinheiro nenhum é capaz de comprar"

Beijos beijos.

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