Estou cansado disso. Estou cansado de ser um garoto gay. Não quero mais isso para mim. Eu só quero ser, tipo um garoto normal.
Apenas um garoto foi um livro que assim que a Editora Arqueiro divulgou, eu fiquei interessada. Afinal ainda há pouquíssimos livros de ficção sobre o universo LGBT para jovens.
Mas por incrível que pareça eu não engrenei a leitura. Já explico o motivo. Aí fui deixando para lá. Até que esses dias , finalmente peguei ele da montanha de livros para ler e li. E agora eu conto o que eu achei.
Rafe é um adolescente que é gay assumido para todos. Sua família super aceita, tanto que sua mãe é presidente de uma associação e seu pai posta videos na internet direto com ele. Na cidade ele é conhecido como o garoto gay, não de uma forma pejorativa, mas porque todos o conhecem assim.
Não acho que ser gay seja uma maldição. Definitivamente não é. Mas sabemos que sair do armário traz um monte de coisas que tornam a vida mais difícil. Mesmo que você tenha pais maravilhosos e uma escola que o trate bem, a revelação acrescenta algo à sua vida. O pior é como todo mundo olha para você de um jeito diferente. Eu fiquei cansado de ser olhado.
Só que Rafe quer mudar de ares, quer mudar para um lugar onde ele possa ser ele mesmo, só que sem o estigma de ser "o garoto gay", assim ele se matricula em uma escola só de garotos do outro lado do país, mesmo que para isso tenha que largar sua melhor amiga para trás.
E tudo começa a funcionar muito bem quando ele chega lá: ele é bem aceito, vira um atleta, conhece novos amigos, mas aí começa seu dilema: ele se apaixona por um deles, só que o garoto é hétero.
É difícil ser diferente. E talvez a melhor a resposta não seja tolerar as diferenças, nem mesmo aceitá-las, e sim celebrá-las. Talvez essas pessoas que são diferentes se sentissem mais amadas e menos… bem, toleradas.
O livro tem uma dinâmica muito boa, depois que você engrena a leitura. Nós vemos Rafe sair de uma zona de conforto dele, onde ele não sofria bullying, mas era marcado como "o garoto gay" , para uma zona desconhecida por ele, uma escola onde só garotos estudam, e lá ele se torna uma outra pessoa,sem esquecer de quem é claro. Mas ali, ele tem a chance de se tornar algo além do que ele era.
Rafe se enturma, se torna um atleta, faz novos amigos, alguns muito divertidos, mas as mentirinhas que ele vai contando para não "assumir" sua homossexualidade é o que vai te deixando tenso na leitura. Afinal você sabe que as mentiras acabam sendo descobertas.
No caso, Rafe se enrola ainda mais ao se tornar mais amigo de Ben, que ao contrário da maioria dos garotos, ele vê as pessoas como são, não pelo que falam dela, e claro, eles vão se envolvendo tanto nessa amizade que logo eles confundem ela com amor, e eles tem muita atração pelo outro. Só que Ben pensa que os dois são héteros, talvez descobrindo novos sentimentos, já Rafe sabe que não pode mais enrolar seu amigo.
E nós sabemos que isso não pode terminar bem.
A culpa é sobre algo que você fez. A vergonha é sobre quem você é.O livro é bom. Eu não sei o que é estar na pele de alguém que assume homossexual com esse mundo tão cheio de descriminação como está hoje. Mas o autor deixa você ambientado na vida do Rafe, no que ele pensa, no que ele sente. Você sabe as idéias doidinhas que passam na cabeça dele e tem horas que pensa "putz , isso não vai dar certo".
Mas não é só sobre homossexualidade que o livro fala, tem também temas como amizade, novos ambientes, bullying, aceitação, mentira e suas consequências. Eu meio que já sabia o final do livro, porque você começa a entender o que vai acontecer, mas não deixou de partir meu coração.
Porém, entretanto, todavia...
Gostei de como o autor vai desenrolando a história, mas Rafe não é aquele protagonista forte que te prende totalmente a história, Rafe é Ok. Talvez por isso eu não tenha engrenado a leitura antes. Não entenda mal, o livro não é chato, mas ele é lento. Os pais dele me irritaram um pouco, talvez isso tenha contribuído também.
Mas leiam que vale a pena, apesar disso.
Tem continuação o livro, só que com a narrativa do Ben, que sai em Março de 2017 nos EUA.
Os gregos eram mais inteligentes do que nós e tinham palavras diferentes para diferentes tipos de amor. Storge é para amor da família. Não é o nosso caso. Eros é o amor sexual. Philia é o amor fraternal. E há a forma mais elevada, Ágape. Esse é o amor transcendental, como quando você põe a outra pessoa acima de sí mesmo."
Beijos Beijos